segunda-feira, 21 de junho de 2010

Violência no Corpo e Violência na Mente: Considerações

Autor: Junio Luis Ferreira Sena

O objetivo do autor foi desenvolver uma compreensão psicológica e psicanalítica dos fenômenos sociais que contribuem para diferentes formas de violência contra o adolescente e praticadas por ele.

Para Levisky (1998, Apud RANNA, p. 65), a violência está presente em vários acontecimentos, dos explícitos aos invisíveis. Para concluir, ele define a violência como sendo a negação de um sujeito pelo outro, numa relação em que a subjetividade singular de cada sujeito é restringida ou apagada.

Os fenômenos sociais absorvidos pela psique do ser humano são tratados pela medicina através de práticas alternativas, principalmente quando os sintomas são manifestados através do corpo. A esta manifestação de sintomas de origem psicológica dá-se o nome de somatização ou fenômenos psicossomáticos. Levisky (1998, Apud RANNA, p. 67), explica que o fenômeno psicossomático seria uma disfunção do corpo biológico em conseqüência de uma falha na organização pulsional de ordem falha na inscrição representativa.

Os estudos mostram que existe uma associação entre a somatização e os comportamentos de risco do indivíduo. Os problemas psicossomáticos são explicados por diversos autores como sendo problemas advindos de traumas ocorridos nos primeiros anos de vida dos indivíduos.

O autor mostra que a tendência à somatização aponta para insuficiências constitutivas nos processos de organização pulsional e, de forma resumida, coloca três tipos de desarmonia nas relações objetais, que estão implicadas nessa tendência:
1ª O filho de mãe depressiva, ausente ou deslibidinizada;
2ª O bebê de mãe impulsiva e agressiva, com grande desorganização em sua guarda.
3ª O bebê de mãe só presença, que não vivencia a ausência ou a falta.

O processo descrito acima está co-relacionado ao desenvolvimento do indivíduo, que, a adolescência pode vir a ser caracterizada por traumas na medida em que o lado psicosexual amadurece com as falhas da organização pulsional.

A somatização nada mais é do que o corpo se manifestando “pedindo socorro” devido à absorção de problemas pela psique dos indivíduos, que diante das falhas pulsionais omite seus sintomas. Levisky (1998, Apud RANNA, p. 69), afirma: O infame é o que não fala e por não falar somatiza de forma mortífera. Para ele, o adolescente funciona da mesma forma, são representados pelos antigos bebês hiperativos, insones, agressivos e doentes nos ambulatórios com os mesmos problemas, após um tempo de calma pulsional da latência (oculto).

Para a criança e o adolescente, a desestruturação nas bases da família pode trazer problemas sérios em um futuro não muito distante. Absolvendo os problemas cotidianos em famílias desestruturadas, a criança ou o adolescente, que na maioria das vezes apresenta-se como espectador nulo “sem fala”, somatiza os problemas ao ponto de alcançar o ápice psicossomático, caracterizado por Wagner nestas três colocações:
1ª Quando a pulsão de morte se dissocia da pulsão de vida, a tendência é a destruição, que se manifesta na ação e no corpo, como, condutas anti-sociais, autodestruição, drogadicção, e nas somatizações.
2ª A indisciplina não deve ser considerada como problema disciplinar, apenas como uma conduta que tem um sentido na subjetividade.
3ª A subjetividade, a riqueza imaginária e fantasmática são importantes na construção do sujeito.

Levisky (1998, Apud RANNA, p. 73), expõe que a desigualdade econômica traz duas situações para o problema até então discutido: a dos sujeitos que vivem a falta da fala: tudo se tem, tudo se pode, nada é preciso desejar; e a dos que onde a falta é radical. Sendo assim, é notório salientar que os extremos vivenciados na construção do indivíduo são males que desequilibram os processos psicológicos, sendo a violência, reflexo desse desequilíbrio. O autor considera:

As coisas fundamentais devem ser apenas suficientemente boas, pois, a ausência e a falta vivenciadas em graus suficientes estão na base de uma organização psíquica, com boas possibilidades de adaptações às inevitáveis dificuldades da vida, para as quais a criatividade humana ainda é a melhor alternativa contra a violência. Levisky (1998, Apud WINNICOTT, 1978, p. 67).

Bibliografia

LEVISKY, David Léo. Adolescência: Pelos caminhos da violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

Um comentário:

  1. Júnio, não sei se você já conhece o filme Ágora, homônimo do seu blog. Se não vale a pena conhecer para falar de violência.
    Abraços,
    Jota.

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